ED 146 | Jan/Fev 2024
Histórias, encantos e mistérios dos sobrados de taipa de pilão
As terras férteis e produtivas das fazendas ituanas geraram prosperidade com o cultivo da cana-de-açúcar a partir do último quarto do século 18 e Itu se tornou o maior centro produtor da Capitania. Essa riqueza refletiu rapidamente no panorama e na vida da população local. As edificações pequenas e térreas passaram a ceder, aos poucos, espaço aos sobrados de taipa de pilão. Igrejas também foram construídas com essa riqueza.
Por volta de 1850, a produção cafeeira veio ditar novo ritmo à economia local e, consequentemente, trouxe mudanças e evoluções significativas em termos de novos hábitos, gostos pelas artes, o adornamento dos sobrados, casas e dos templos, enfim, um novo estilo de vida emergiu.
A economia gerada pelo café foi tamanha que até mesmo um moderno meio de transportes veio “arreboque”. Em 1873, a população viu a chegada da Companhia Ytuana de Estrada de Ferro para o escoamento da produção e para o transporte de passageiros. Nesse período, o eixo central da cidade foi se transformando com os suntuosos sobradões de taipa de pilão, pau-a-pique (taipa de mão ou de sopapo) e, em alguns casos, taipa pombalina.
No artigo “A Arquitetura Ituana”, a arquiteta Vera Maria de Barros Ferraz faz menção a essa antiga técnica construtiva, herança portuguesa, levada para a região do Algarve pelos árabes e que se “aclimatou” entre paulistas. Vera Maria escreveu que “onde houver paulista, há taipa e por onde houve taipa passou o paulista”, citação extraída do livro “Casa colonial paulista”, do pesquisador Carlos Lemos.
Em razão da recente restauração do antigo sobrado do Grupo Escolar Dr. Cesário Mota, hoje Espaço Almeida Júnior, reinaugurado no último dia 2 de fevereiro durante o aniversário do município, a Revista Campo&Cidade dedica esta edição a cerca de 40 edificações que existiam na cidade, segundo pesquisa do engenheiro Jair de Oliveira.
Infelizmente temos mais a lamentar do que comemorar, pois hoje restam apenas quatro deste colossal patrimônio arquitetônico que foi dizimado em nome da ganância da especulação imobiliária e do “progresso”. Ficaram somente lembranças, histórias, acontecimentos e registros fotográficos.
As matérias da edição estão rica de informações com a opinião de fontes especializadas, pesquisadores, engenheiros e arquitetos e irá despertar o interesse do leitor o qual ficará sabendo sobre a “Arquitetura da taipa de pilão”, “Arquitetura do café”, “Sobrados e casas assobradadas do século 19”, “Programa de uso dos sobrados e casas assobradadas”, “O tombamento, atuação dos órgãos de preservação do patrimônio arquitetônico”, “Outros bens arquitetônicos restaurados” e a “História Contada” com relatos de ocorrências ocorridas num sobrado mal assombrado reveladas por três entrevistados.
Com mais este trabalho de pesquisa, a equipe da Revista Campo&Cidade espera poder dar sua contribuição a todos aqueles que queiram conhecer, estudar ou se aprofundar ainda mais sobre a relevante temática dos sobrados de taipa de pilão de Itu e suas técnicas construtivas que fizeram história.
Texto: Tucano