Há mais de três décadas ininterruptas, a Celebração Incultuada Afro reúne a comunidade negra ituana e regional na Igreja São Benedito
Aliás, há muito mais tempo a comunidade afro-descendente de Itu/SP mantém estreita relação histórica de fé ligada à irmandade de São Benedito, desde a época do Convento Franciscano, monastério que ficava localizado no Largo São Francisco, conjunto arquitetônico do patrimônio histórico religioso, destruindo por um incêndio em 1907.
Desse prédio de taipa de pilão, construído no final do século 18, infelizmente restou apenas o Cruzeiro de São Francisco, monumento edificado pelas mãos do ex-escravizado Joaquim Pinto de Oliveira, habilidoso cantareiro, conhecido como Mestre Tebas. Atualmente sua obra-prima ainda pode ser contemplada na referida praça, hoje, denominada D. Pedro I.
Além da festa dedicada ao padroeiro São Benedito, realizada no dia 6 de janeiro, tradicional evento religioso que reúne devotos de diversas cidades da região, todos os anos, a Celebração Incultuada Afro também tem sido um momento de encontro da comunidade negra religiosa ituana como esse ocorrido em 20 de novembro de 2025 para celebrar o Dia da Consciência Negra.
O presidente da União Negra Ituana (UNEI), o engenheiro eletricista e eletrônico, Sidnei Cruz dos Santos, afirma “que a Celebração Inculturada Afro-Brasileira (historicamente conhecida como “Missa Afro”) representa muito mais do que um ato religioso, é um símbolo máximo de resistência, afirmação da identidade negra e sincretismo cultural em Itu”.
Ao longo de vários anos a Celebração Incultuada Afro faz parte do calendário de eventos religiosos do município. Sidnei explica “que para UNEI ela é uma ferramenta política e cultural que cumpre vários papéis, entre eles principalmente o de se posicionar contra a intolerância racial. Em um País marcado pelo racismo religioso, a celebração ocupa um espaço tradicionalmente eurocêntrico (a Igreja Católica) e o preenche com a liturgia, estética, música e línguas de matriz africana como Iorubá e Banto. É um ato de dizer ‘nossa fé e cultura também são sagradas’”. O sincretismo e a inculturação estão presentes na celebração, explica o presidente da entidade.
“A cerimônia utiliza o conceito teológico de ‘inculturação’, o que permite adaptar os ritos cristãos à cultura local. Na prática, isso significa que, em vez de órgãos e cantos gregorianos, a celebração é conduzida ao som de atabaques, berimbaus e agogôs, com ofertas de alimentos tradicionais (milho, mandioca, frutas) e danças afros. Sidnei deixa claro ainda que esse evento religioso é focado na ancestralidade, ele acontece sempre em 20 de novembro (Dia da Consciência Negra), conectando a fé atual à memória de Zumbi dos Palmares e aos nossos ancestrais escravizados que ajudaram a construir a cidade de Itu”.
A Celebração Incultuada Afro começou a ser realizada na Igreja São Benedito no início da década de 1990, templo onde a Irmandade dos homens pretos sempre esteve presente historicamente com muita fé e devoção. Embora não haja documento oficial que comprove, segundo Benedito de Almeida Sampaio Filho, conhecido como Ditinho Sampaio, a primeira celebração desse evento cultural religioso em Itu foi realizado no prédio da SARBRAS – Socidade Amigos da Roma Roma Brasileira que ficava localizado no Bairro Cruz da Almas, iniciativa de Justina dos Santos Arruda (Dona Justina) e demais membros integrantes da UNEI.
Este ano, mais uma vez, a cerimônia foi presidida pelo pároco da Paróquia Nossa Senhora da Piedade, de Várzea Paulista/SP, João Estevão da Silva, conhecido com João Marrom (75 anos).
Texto: Tucano
Fotos: Arquivo UNEI, Arquivo Revista Campo&Cidade e coleções Fátima do Carmo Silva, Selma Regina Dias e Célia Regina Caetano



































