ED 147 | Mar/Abr 2024
A cultura do Samba Rural Paulista
O Samba Rural Paulista ganhou essa denominação porque o batuque era praticado pelos escravizados nas senzalas em fazendas e nos quilombos como forma de festejo e, talvez, até para afugentar e esquecer injustiças e agruras da vida, mas acima de tudo para preservar a cultura e não perder as raízes.
Foi assim que o escritor, poeta, cronista, romancista, crítico, fotógrafo, historiador, e um dos fundadores do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), Mário Raul de Moraes Andrade, mais conhecido como Mário de Andrade, deu nome a essa nossa cultura quando ele descobre em Pirapora de Bom Jesus/SP, na década de 1930, aquele que também ficou conhecido como “Samba de Pirapora”.
Pode-se afirmar que foi a partir daquele momento que o “abençoado” Samba Rural Paulista vai ganhar a devida notoriedade para desfilar, anos mais tarde, em páginas de livros, jornais, documentários, estudos, debates, teses acadêmicas e dossiês em razão de sua importância cultural na história do nosso povo.
Mas nem sempre foi assim na sua trajetória marcada por luta, resiliência e, porque não dizer, muita fé e resistência para sobreviver e superar preconceito, discriminação e acirradas perseguições por parte da polícia e inclusive também intolerância religiosa de setores radicais retrógrados da Igreja Católica e da própria sociedade que não viam o samba praticado pelos afrodescendentes com bons olhos.
Valiosa foi a luta daqueles que não se abateram diante das terríveis adversidades, mas ao contrário, mantiveram-se firmes, com aguerrido espírito de luta, para que as novas gerações pudessem dar continuidade, nos dias de hoje, a essa tradição herdada do povo africano. As batidas do bumbo continuam a ecoar fortes como o próprio pulsar do coração daqueles que não deixam essa tradição cultural morrer. Em diversas cidades da região sua prática continua viva, tanto que recentemente foi elaborado um dossiê para o registro do Samba de Bumbo, uma das diversas variedades desse patrimônio cultural imaterial.
Passados quase 50 anos, essa prática foi reintroduzida em Itu/SP por meio do batismo do bumbo do mestre Osvaldo Caetano, na Vila Ianni, no dia 13 de abril de 2024, recuperado por integrantes de sua família, com as participações do Grupo de Samba Treze de Maio Cururuquara, de Santana de Parnaíba/SP, e Grupo Nestão Estevam, de Campinas/SP. O velho bumbo foi batizado com o nome de “Ventania”.
Registros históricos feitos por renomados pesquisadores sobre essa cultura, além de depoimentos e lembranças de entrevistados, retratam com clareza a trajetória do Samba Rural Paulista, no passado, em alguns locais de Itu/SP como no Largo São Francisco, hoje Praça D. Pedro I, pátio da Igreja São Benedito, Largo do Mercado Municipal e na própria Vila Ianni. Inclusive a pesquisadora ituana da Universidade Estadual Paulista (UNESP), de Araraquara/SP, Claudete de Sousa Nogueira, assina um artigo que fala sobre a pesquisa que ela realizou sobre esse tema, a qual traz relatos e depoimentos de pessoas de grupos da região (veja na página nº 34).
Também nesta edição, a Revista Campo&Cidade traz um caderno sobre a Festa de São José e do santo padroeiro dos carpinteiros, marceneiros e operários. A Igreja Católica comemora o Dia de São José em 19 de março. Você vai conhecer ainda a história da Paróquia São José e também da vila que foi batizada com o nome do pai adotivo de Jesus – um dos bairros tradicionais da cidade – com relatos e histórias contados por antigos moradores.
O belo registro fotográfico da capa foi feito pelo fotógrafo paulistano Renan Martins, na Casa do Samba, em Pirapora do Bom Jesus, em 6 de agosto de 2023, no qual aparecem a sambista integrante do Grupo Nestão Estevam e o Bumbo Cangussu, tocado por João Mário Machado, do Grupo Treze de Maio de Samba do Cururuquara.
A equipe da Revista Campo&Cidade espera que este trabalho jornalístico histórico lhe traga prazer, entretenimento e, principalmente, conhecimento e cultura sobre a história do Samba Rural Paulista – valioso patrimônio imaterial.
Que São José abençoe você, caro leitor!
Texto: Tucano